segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Confissão

Está na altura.

Ocultei-vos isto a todos durante todo este tempo mas já não aguento mais.

Está na hora de partilhar com todos vocês a verdade, não me importam as consequências, nada é pior do que viver ensta mentira, neste sufoco.

Aqui vai então:

Eu sou panilas.

Sou mesmo.

Um panasca.

Gosto de apanhar por trás.

Espero que consigam ter uma mente aberta em relação a isto e que a nossa relação não mude por causa desta minha confissão.

Aqui vai. Vou postar.

domingo, 2 de dezembro de 2007

O meu amigo

No outro dia vi um programa sobre as dez personalidades mais influentes da história em termos de revoluções científicas ou tecnológicas. Curiosamente, não falaram de um grande amigo meu:




































Fig.1 - O descobridor do fogo.


Suponho que ele tenha ficado algo intrigado com algo de tão estupidamente não familiar como o fogo. Quase de certeza que é ele o autor deste haiku que encontrei no meio de umas folhas velhas:

O fogo aquece,
amolece a comida.
Mas queima as patas.

Sonho

Ontem sonhei com outro mundo.
Vou contar a sua história.

O oceano estende-se até perder de vista como um tapete cor de baunilha, brando e benévolo, como um velho sábio que sorri paternalmente às criaturas que o habitam. Ele beija e acaricia a vida que alberga no seu seio com o mesmo amor de uma mãe que transborda de ternura.
O oceano é berço, abrigo e alimento. Aqui, não é preciso mais que respirar o mar para revigorar o corpo.
O vento, esse, quase não se faz sentir senão para cortejar o mar como um paciente namorado, moldando cativantes padrões ondulatórios, de uma monotonia quase hipnótica, no espelho quase perfeito que é a sua superfície. Nunca na minha vida o vi enfurecer-se.
Eu sou um humilde servo do mar. Tal como ele, não tenho passado nem futuro. Nunca os seus segredos ser-me-ão desvendados, nem eu tenho tal desejo. Estou apenas grato por fazer parte deste paraíso, por pouco tempo que seja.
Neste mundo também há terra seca. Locais que o mar não consegue apalpar com os seus membros, que não conhecem o seu abraço. Já lá estive uma vez, e pude testemunhar esse vazio, o vazio que uma criança sente quando é separada da mãe. Mas também já vi os milagres de que a vida é capaz, mesmo privada do calor e fertilidade do oceano.
Na terra seca a vida existe numa forma estática, quase sem vida. Na realidade, nem pareceria vida se não fosse pela beleza quase esotérica, pela harmonia transcendente das formas que a contituem. As cores, essas, só podem ter sido criadas na tela do Grande Espírito.
O céu do meu mundo é de um infinito prateado do qual não me cansaria em mil vidas. Aqui, não se tem mais que olhar para a linha do horizonte para se sentir a presença divina.
Neste mundo, a paz do só é quebrada quando o céu, de tempos a tempos, resolve dar-nos um vislumbre do que está no seu limite inatingível. Este acontecimento é, segundo dizem, a manifestação mais gloriosa que o Grande Espírito nos dá da sua presença. Ninguém sabe exactamente quando acontece. Tudo o que podemos fazer é fitar o céu, contemplar o infinito, até que o infinito se revela.
Ainda não tive a sorte de ver esta maravilha, mas há também aqueles que já o viram mais que uma vez. Contam que uma luz branca rasga impiedosamente o céu prateado, com a fúria de um animal que luta pela vida, ofuscando tudo com a sua grandiosidade. A luz é de tal maneira intensa que se diz poder-se ver os confins do mundo por breves instantes. E então, durante um momento em que toda a racionalidade desvanece, todas as questões filosóficas deixam de ter sentido, os calejados corpos celestes mostram a sua colossal fronte rugosa, espreitando o nosso mundo com a preocupação materna da mulher que vigia o seu filho no berço. Finalmente, quando tudo parece indicar que o mundo chegou ao fim, a luz termina. De novo a calma, o céu prateado, o velho mar sereno.
O meu único desejo é ver este milagre antes de morrer.

Quando disse que ia contar a história deste mundo, menti. Essa história já foi contada, aqui. É uma história triste.