domingo, 2 de dezembro de 2007

Sonho

Ontem sonhei com outro mundo.
Vou contar a sua história.

O oceano estende-se até perder de vista como um tapete cor de baunilha, brando e benévolo, como um velho sábio que sorri paternalmente às criaturas que o habitam. Ele beija e acaricia a vida que alberga no seu seio com o mesmo amor de uma mãe que transborda de ternura.
O oceano é berço, abrigo e alimento. Aqui, não é preciso mais que respirar o mar para revigorar o corpo.
O vento, esse, quase não se faz sentir senão para cortejar o mar como um paciente namorado, moldando cativantes padrões ondulatórios, de uma monotonia quase hipnótica, no espelho quase perfeito que é a sua superfície. Nunca na minha vida o vi enfurecer-se.
Eu sou um humilde servo do mar. Tal como ele, não tenho passado nem futuro. Nunca os seus segredos ser-me-ão desvendados, nem eu tenho tal desejo. Estou apenas grato por fazer parte deste paraíso, por pouco tempo que seja.
Neste mundo também há terra seca. Locais que o mar não consegue apalpar com os seus membros, que não conhecem o seu abraço. Já lá estive uma vez, e pude testemunhar esse vazio, o vazio que uma criança sente quando é separada da mãe. Mas também já vi os milagres de que a vida é capaz, mesmo privada do calor e fertilidade do oceano.
Na terra seca a vida existe numa forma estática, quase sem vida. Na realidade, nem pareceria vida se não fosse pela beleza quase esotérica, pela harmonia transcendente das formas que a contituem. As cores, essas, só podem ter sido criadas na tela do Grande Espírito.
O céu do meu mundo é de um infinito prateado do qual não me cansaria em mil vidas. Aqui, não se tem mais que olhar para a linha do horizonte para se sentir a presença divina.
Neste mundo, a paz do só é quebrada quando o céu, de tempos a tempos, resolve dar-nos um vislumbre do que está no seu limite inatingível. Este acontecimento é, segundo dizem, a manifestação mais gloriosa que o Grande Espírito nos dá da sua presença. Ninguém sabe exactamente quando acontece. Tudo o que podemos fazer é fitar o céu, contemplar o infinito, até que o infinito se revela.
Ainda não tive a sorte de ver esta maravilha, mas há também aqueles que já o viram mais que uma vez. Contam que uma luz branca rasga impiedosamente o céu prateado, com a fúria de um animal que luta pela vida, ofuscando tudo com a sua grandiosidade. A luz é de tal maneira intensa que se diz poder-se ver os confins do mundo por breves instantes. E então, durante um momento em que toda a racionalidade desvanece, todas as questões filosóficas deixam de ter sentido, os calejados corpos celestes mostram a sua colossal fronte rugosa, espreitando o nosso mundo com a preocupação materna da mulher que vigia o seu filho no berço. Finalmente, quando tudo parece indicar que o mundo chegou ao fim, a luz termina. De novo a calma, o céu prateado, o velho mar sereno.
O meu único desejo é ver este milagre antes de morrer.

Quando disse que ia contar a história deste mundo, menti. Essa história já foi contada, aqui. É uma história triste.

5 comentários:

Sonat disse...

LOL que ganda plot twist, não tava à espera, cheguei ao fim do texto ainda sem fazer ideia do que estavas a falar.

Aliás, pensei que estivesses só a dizer merda enquanto tentavas ser erudito, e mesmo se fosse só isso até tava fixe, mas a surpresa foi muito boa.

Só não percebo como é que as larvas viam no escuro, mas aceito a liberdade artística.

Sessa disse...

lol ta muito bom, mas tanta poesia so por causa de um bando de mini lagartas nojentas... lol ;)

Marco Robalo disse...

Estou maravilhado. Completamente maravilhado.

Anônimo disse...

Bem… Estou deveras espantado com o teu brilhantismo. E ainda mais espantado por teres ficado até ás 4 da manha a fazer essa obra. E a história das larvas, infelizmente nunca vou ter a oportunidade de poder observa-las no seu ecossistema felizes. =(

Bem agora falando de coisas mais serias, vê lá se te lembras, do que ta no DIARIO DO AUTISTA, e me mandas por correio, o que te pedi meu paneleiro. Haaa...Como podes ver, juntei-me a este monte de merda, que são os blogs.

Anônimo disse...

Peço desculpa. Correcção: GUIA PRÁTICO DO AUTISTA*